Se lhe pedissem para listar as maiores pessoas artistas da história, em quem você pensaria? Provavelmente, os primeiros nomes em quem você pensaria são homens.

“Enquanto os homens estão muito presentes em nossas instituições de arte, as mulheres estão muito mais ausentes”, descreve Judy Chicago, uma artista feminista americana, “exceto em imagens que não refletem necessariamente o senso que as mulheres têm de si mesmas.”

Mulheres, pessoas não binárias, LGBTQI+ e outras comunidades de artistas foram deixadas de fora da história registrada durante gerações. Mas Arte+Feminismo está trabalhando para mudar isso.

Como uma comunidade de ativistas, a organização sem fins lucrativos está comprometida em fechar lacunas de informação no mundo da arte relacionadas a gênero e feminismo. Isso começa com uma melhor representação na Wikipédia.

Em 2013, as cofundadoras originais do grupo, Siân Evans, Jacqueline Mabey, Michael Mandiberg e Laurel Ptak, estavam trabalhando na mesma área: cobrindo a lacuna de gênero na arte on-line, principalmente na Wikipédia. Ao se unirem, perceberam que o primeiro passo para aumentar seu impacto era organizar uma editatona, na qual pessoas voluntárias se reúnem para criar e editar artigos da Wikipédia relacionados a um tópico ou tema específico simultaneamente.

Dez anos depois, o que começou como um evento é agora uma organização sem fins lucrativos que já organizou  centenas de editatonas em todo o mundo. A comunidade global de mais de 20.000 pessoas participou de mais de 1.500 eventos em mais de 27 idiomas diferentes em todo o mundo, resultando na criação e melhoria de mais de 100.000 artigos na Wikipédia e em seus projetos irmãos.

Arte+Feminismo continua focando na desigualdade de gênero, mas também se expandiu para garantir que todas as vozes que não estão escritas histórica e sistematicamente sejam ouvidas. Para comemorar seu décimo aniversário em 2023, a organização está enfatizando o tema da Ação Coletiva, inspirado nas ações coletivas que comunidades têm realizado globalmente para combater as desigualdades e a marginalização na Wikipédia e além.

Conversei com Juliana Monteiro, co-organizadora principal de Arte+Feminismo, sobre esse marco e para saber mais sobre a organização sem fins lucrativos.

P: Arte+Feminismo está comemorando seu décimo aniversário este ano, parabéns! Você poderia falar um pouco mais sobre o tema Ação Coletiva?

Juliana: Fomos inspiradas pelas ações coletivas que as comunidades realizam em todo o mundo. Seja um protesto do Black Lives Matter nos Estados Unidos ou organizadores nigerianos conquistando apoio internacional na luta contra a brutalidade policial, ver as pessoas se unindo para defender algo tem sido inspirador.

Para Arte+Feminismo: Ano Dez, estamos refletindo sobre como as comunidades têm aproveitado seu poder coletivo para lidar com as desigualdades e a privação de direitos na Wikipédia. Queremos aproveitar as nossas experiências para nos aprofundarmos na participação e ação coletiva como estratégia de empoderamento.

Para apoiar isso, Arte+Feminismo criou um Fundo Global de Celebração que ajuda financeiramente pessoas organizadoras a mostrarem “como você faz Arte+Feminismo”. A primeira rodada de financiamento finalizou agora e algumas das pessoas contempladas foram: Anthony Diaz, um organizador da Rede Arte+Feminismo nas Filipinas que está criando uma revista, e Karen Keifer-Boyd, da Penn State, que está trabalhando para arquivar seus trabalhos na Penn State e na Arte+Feminismo com a ajuda do nosso financiamento. 

Além disso, também realizaremos um evento em abril em Houston, Texas, com workshops de edição, oportunidades para fazer arte, sessões interativas com pessoas organizadoras locais e muito mais.

P: O que te entusiasma na Wikipédia e em outros projetos Wikimedia como um lugar para criar mudanças?

Juliana: A Wikipédia desempenha um papel muito importante na Internet. A Wikipédia em inglês é um dos sites mais visitados do mundo e uma das últimas plataformas que permanece relativamente livre de interesses ou influências de corporações. Mas a Wikipédia não está isenta de vieses e lacunas de conhecimento – é fundamental trabalhar com e dentro da comunidade de pessoas editoras voluntárias de diversos lugares para tentar mudar esse cenário.

A Wikipédia se define como um projeto enciclopédico, mas também é importante perguntar: “quem decide qual conhecimento será exibido e compartilhado?”. A resposta depende, mais uma vez, da comunidade de pessoas editoras, que sempre pode trabalhar em prol de um projeto mais inclusivo, diverso e igualitário. Para gerar mudanças, queremos trabalhar com essas pessoas editoras — iniciantes ou não — porque acreditamos que mudanças significativas e impactantes vêm das pessoas e para as pessoas.

P: Se houvesse algo que você gostaria que as pessoas soubessem sobre Arte + Feminismo, o que seria?

Juliana: Arte+Feminismo se dedica a avançar em direção a uma maior igualdade, diversidade e inclusão. Isso envolve melhorar os artigos da Wikipédia em vários idiomas, especialmente aqueles que se referem a grupos historicamente marginalizados, como mulheres, pessoas de cor, pessoas negras e indígenas (BIPOC, na sigla em inglês), LGBTI+ e outros que foram excluídos das narrativas tradicionais.

Nosso objetivo é continuar desenvolvendo cada vez mais os nossos esforços, conforme evidenciado por nossa transformação em uma organização sem fins lucrativos na última década. Nossa comunidade é composta por pessoas que compartilham nossa visão e estão comprometidas com a edição de artigos da Wikipédia que destacam suas próprias histórias e as de outras pessoas como elas.

Nosso impacto não é medido apenas por métricas quantitativas, mas também por métricas qualitativas. Essas métricas podem incluir a experiência da comunidade durante nossos encontros, a disponibilidade de horas comunitárias para que os membros se conectem entre si e até mesmo nossa colaboração com o movimento Wikimedia em geral.

Saiba mais sobre Arte+Feminismo e participe aqui.

Este blog faz parte de Open the Knowledge: Stories, uma série que apresenta voluntários do movimento Wikimedia que estão ajudando o mundo a encontrar a verdadeira essência de todo o conhecimento humano nos projetos da Wikimedia. Se você quiser saber mais sobre o que é equidade de conhecimento, por que ela importa e como você pode nos ajudar a alcançá-la, junte-se a nós em Open the Knowledge.

Esta entrevista foi editada para maior clareza e extensão.

Barbara Kandek é Associada de Comunicação da Fundação Wikimedia.